O sal e a ampulheta

Os teus olhos,
quais poços rasos
que rasam
barreiras são
duas fronteiras
que arrasam
cheias as
duas barragens
que enchem e
derrubam
margens e
inundam
cidades inteiras.
Os teus olhos
mergulham e
transbordam,
transformam
o sal da derrota
em ampulhetas
que escoam o
tempo eterno
fora de prazo.

Visto o inferno
numa guerra
do empurra,
os teus olhos
a amputar
transportam
fartas frotas de
afugentar e
galgar mares
e se em destreza,
forem retidos
numa rusga,
os teus olhos
retirados
largar-se-ão em fuga
para apartarem os
grilhões que
apertaram
anestesiadas
emoções.
Passarão a
olhos que
cospem notas,
rompem rotas de
sono e de seda e
que corroem
grandes grades
de ferro velho
que aprisionam
enferrujadas
as sensações.
E se outra vez
surpreendidos
em combate forem
agrilhoados e
comprimidos no
arame farpado,
os teus olhos
incansáveis
logo se tornarão fé,
férreos e sedentos,
mortos de sede e
cercados
por uma rede de
sangue exangue e
pelo suplício
em lamúrias,
serão olhos
arrastando-se
em fúria
suplicando
credos e medos
num cerro apertado,
vestindo o negro
dum cerco neutro
e quedo.
Mas olhos desta
estirpe não
são de fiar e
não ficarão,
partirão pioneiros
com a saciedade
de duas banheiras
onde se banharão
primeiro os olhos
guerreiros
com vontade de
serem não mais
que dois olhos
mergulhados.
Em espuma dois
olhos molhados.