Onde me criei

Não regressarei ao baloiço
da cabeça de cavalo partida
nem ao cheiro da cortiça
do recreio da capela dos cactos
e do largo das romarias.
Não regressarei ao abraço
venenoso das urtigas
e ao amarelo inexplicável
das mimosas do Carnaval.
Não regressarei à apanha
dos míscaros e do musgo
e da caruma e de caracóis
ranhosos nas rusgas à chuva.
Não regressarei às fugas furtivas
à procura de cerejas e de silvas
de amoras pretas repletas.
Não regressarei à ribeira
e aos seixos e peixes do rio
e aos banhos nus no rio
e à memória límpida desse rio.
Regressarei sei à terra da terra.
Na minha terra nessa terra me deitarei.