I
Quando fujo de tudo e não me despeço,
quando me sinto sujo e me refugio mudo
no rio de risos que sei que existe mas
nunca ao vivo vi e intimamente desconheço.
Quando estaciono numa frase triste,
transbordo tormentas e não o transpareço,
quando insisto nisto que não me merece,
quando não há razão que me impeça
de seguir a ferocidade desleixada do sentir,
quando me deixo ir sem preço e não me queixo.
Quando não me relaciono, me fecho em
desculpas e desapareço para voluntarioso me trair.
Quando não compareço e me perco de mim,
quando pareço esvanecer num fogo com ganas
de se consumir veloz para feroz se extinguir,
quando me questiono e quando não me respeito…
… Desabam terramotos temporais no meu peito.
II
E quando imerso em temor e despeito
reúno os meus esforços para colher os destroços,
ruínas de alma quebrada, penso e repenso afoito
neste feito para, de mim, novamente, continuar.
E se já pacificado, dos cacos a colar, ressuscito,
recolho-me das minhas ruínas demarcadas e
reconstruo-me ciclicamente em eterno retorno.
Tijolo a tijolo, telha a telha, parede a parede,
a auto-estima, a confiança desaguando em euforia.
Salvo até à próxima réplica e até ao próximo abandono
a espreitar daqui a um ano ou já no dobrar do dia.
Até ao temporal que antecipe a Primavera emocional,
ostento as ruínas para visitas escolares de meninos
e meninas de molares cariados e cadernos coloridos.
A destruição pode ser apreendida como lição, anotem!
Morrendo um pedaço de nós as ruínas resultam em vida,
algo precisa desabar para vislumbrar salubre a saída!